O inverno é a estação mais inebriante e misteriosa de todas.
Nessa estação enxergamos o que nas outras nem sequer cogitamos de existir. O vapor da água quente do chimarrão nos torna mais aquecidos. O abrir e fechar dos lábios produzem vapores visíveis sem ao menos pronunciarmos uma palavra.
O café enverga um gosto legítimo e a torra clássica nos presenteia com seu aroma sedutor todos os dias.
O inverno é a minha estação preferida, mergulho em inspirações a procura de uma paixão para aquecer, de um fenômeno sentimental, de uma queda brusca da temperatura. A noite se aproxima rapidamente e as ruas carregam seres embaçados.
A paisagem, do horizonte, torna-se menos visível e mais sensível. Uma formação misteriosa e poética. O inverno nos traz nostalgias e compaixão com aqueles que precisam se manter aquecidos nessa época. Nosso espírito de solidariedade é amadurecido.
Parece que nessa estação a vida possui outro sentido. É igual a uma outra vida, talvez. É como nascer novamente num período que fora mudado tão bruscamente. As variações de temperaturas de altas para baixas é uma sobrevida, um cruzamento de informações tão distantes. Há mudança de tudo: das roupas, das comidas, das horas de sono, da luz do dia, da conta de luz…
Mas o que vem em mim nessa proximidade do inverno? O nariz avermelhado, as bochechas rosadas, os lábios pedindo proteção, as mãos perdidas procurando um abrigo do mundo, um esconderijo de todos.
O inverno é um período introspectivo e a minha paixão por ele acaba todos os anos.